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E agora, Mamãe?

Dra. Monique Catache

Dicas importantes para simplificar a vida das mamães de primeira viagem.

O nascimento de um filho é um momento muito especial na vida de um casal. Não existe emoção que se compare à que sentimos quando olhamos nosso filho ao nascimento.

No entanto, muitas vezes os primeiros dias em casa trazem muitas dúvidas e inseguranças para as mães, principalmente quando se trata do primeiro filho. Para facilitar a nova adaptação entre mãe e filho, leia a seguir alguns esclarecimentos sobre as principais dúvidas sobre essa fase inicial da vida do bebê.

Amamentação

A amamentação é um momento mágico entre mãe e filho. É um momento no qual se estabelece uma relação indescritível e especial entre ambos. Assim, desde o nascimento, todas as ações devem estar voltadas para favorecer uma boa adaptação à amamentação, para que ela ocorra da forma mais tranqüila possível.

Inicialmente, a mãe deve esclarecer suas dúvidas com o seu pediatra ou a equipe especializada da unidade materno-infantil da maternidade. Evitar ouvir palpites externos diminui o risco de se criar inseguranças com relação à amamentação. Não existe leite “fraco”, e se houver boa disposição tudo tende a evoluir tranqüilamente. Lembre-se do mais importante: o leite materno oferece inúmeras vantagens para o desenvolvimento do bebê.

Na hora de mamar, o bebê e a mãe precisam de um local tranqüilo, longe de lugares com muito barulho. Além disso, é importante sentar-se confortavelmente em uma cadeira ou poltrona em que se possa apoiar o braço, facilitando dessa forma o posicionamento adequado do bebê. As mamas devem ser oferecidas de forma alternada, permitindo o aproveitamento de todos os nutrientes necessários ao desenvolvimento adequado do bebê. Não existe duração ideal para a mamada, cada bebê tem seu tempo particular para se saciar. O controle de ganho de peso é o melhor parâmetro para avaliar a amamentação.

A mãe deve lembrar de ingerir muito líquido durante a amamentação, para garantir uma boa produção de leite. A única restrição alimentar é evitar o excesso de cafeinatos (café, Coca-Cola).

Depois de mamar, o bebê deve ficar em posição vertical para arrotar. Durante a mamada o bebê ingere ar junto com o leite. Esse ar, ao ser eliminado, pode favorecer a regurgitação do leite. Por isso essa posição é recomendada, para facilitar a eliminação do ar e diminuir o risco de regurgitação. Aguarda-se em torno de cinco minutos nessa posição, e se o bebê não arrotar, pode ser colocado no berço.

Cólicas

As cólicas estão entre as principais preocupações das mães, e muitas vezes são mais valorizadas que o necessário. A cólica é definida como um choro intenso por mais de três horas por dia, durante mais de três dias por semana, e por mais de três semanas em um bebê bem alimentado e saudável em outros aspectos. Os períodos mais intensos de cólica são os finais de tarde e início da noite. A cólica é uma condição transitória que surge geralmente entre sete e catorze dias de vida, mas não interfere no crescimento do bebê.

O tratamento da cólica é limitado. As restrições alimentares não são aconselhadas, pois não existe relação da dieta com as cólicas. Sugere-se apenas evitar o excesso de alimentos contendo cafeína.

Para aliviar os períodos de cólica intensa, os pais podem sentar-se com leve reclinação e posicionar o bebê na posição em pé sobre a barriga na altura do peito. Isso parece aliviar os momentos de cólica. A conscientização de que a cólica faz parte do processo evolutivo do bebê e manter a calma durante os períodos de choro intenso, ao longo do tempo tornam as cólicas mais amenas.

Aconselhamos estabelecer uma rotina para o bebê, como horários fixos de banho e passeio, evitando lugares aglomerados e agitados. Um bebê tranqüilo tem menos cólica, e a cólica é passageira, não permanecendo por mais de quatro meses.

As medicações disponíveis apenas aliviam os episódios e apresentam eficácia duvidosa no tratamento da cólica. Elas sempre devem ser acompanhadas por orientação médica.

Sono

A posição de dormir do bebê tem sido motivo de estudos nos últimos anos. A principal preocupação é a síndrome de morte súbita do lactente no primeiro ano de vida. Todos os estudos buscam definir as recomendações para minimizar os riscos.

Jamais utilize o decúbito ventral (bebê dormindo de barriga para baixo). Procure utilizar o decúbito dorsal (bebê dormindo de costas), lembrando de mudar a posição da cabeça com freqüência. A Academia Americana de Pediatria orienta também utilizar o decúbito dorsal em vez do lateral (dormir de lado).

Outros hábitos freqüentes devem ser combatidos. Até o primeiro ano de vida o bebê não precisa e não deve ter travesseiros ou quaisquer objetos macios no berço (almofadas, pelúcias). Deve-se cobrir o bebê apenas até a região do peito e evitar agasalhá-lo demais durante a noite.

Lembre-se: o bebê deve dormir no berço, e não com os pais na mesma cama.

Agasalhamento

A escolha das roupas do bebê não é uma tarefa fácil. Existe uma tendência de se acreditar que o bebê está sempre com frio, e por isso muitos bebês vivem super agasalhados. Esse hiperagasalhamento pode levar a aumentos de temperatura, que muitas vezes são interpretados como um sinal de infecção. Assim como nós, o bebê deve estar sempre confortável e coerente com o clima. Quando está calor ele deve usar roupas leves, e até de manga curta se necessário. Evite se basear pela temperatura das mãos, pois muitas vezes estão mais frias que o restante do corpo. As vestimentas do bebê devem ser adequadas às nossas.

Outra dica é evitar a utilização de amaciantes na lavagem das roupas do bebê, bem como fragrâncias e “perfuminhos” que podem ocasionar reações alérgicas.

Higiene

Desde o nascimento são importantes os cuidados nas trocas de fraldas do bebê para evitar, ou pelo menos diminuir, os riscos de assaduras. As trocas de fraldas devem ser realizadas utilizando-se algodão e água morna. Toda a região que a fralda abrange deve ser higienizada, dando cuidado especial às pequenas “dobrinhas” do bebê, que podem conter resíduos de urina e causar assaduras.

Nos meninos devemos nos preocupar com a região abaixo da bolsa escrotal, que pode reter resíduos. Já nas meninas devemos higienizar a região vulvar, sempre realizando a limpeza da região anterior em direção à posterior. Jamais o algodão deve ser utilizado novamente na região vulvar, pois pode estar sujo e predispor ao risco de uma infecção urinária.

O banho é um momento de relaxamento para o bebê, mas também requer seus cuidados. Para maior facilidade, separe os objetos necessários antecipadamente e escolha o horário em que a temperatura da casa é mais alta. Mantenha a água entre 32ºC e 34ºC. Na ausência de um termômetro, utilize o dorso da mão ou a região do cotovelo para avaliar a temperatura da água. Comece o banho pela cabeça do bebê, sempre utilizando sabonete neutro ou sabonetes próprios para crianças. O bebê deve ser colocado lentamente na banheira para acostumar-se à temperatura da água. Após a lavagem da cabeça, lave o tronco e por último os membros e a região genital. Seque o bebê com uma toalha macia ou fralda, com cuidado para evitar escoriações na pele delicada do bebê. Ao secar, não se esqueça novamente das “dobrinhas” do bebê.

O bebê pode freqüentemente apresentar obstrução nasal, já que as narinas são muito pequenas e podem facilmente ser obstruídas pelo acumulo de secreções. Para desobstrução nasal podemos utilizar soro fisiológico, que deve ser instilado nas narinas antes das mamadas. Esse procedimento favorece o escoamento das secreções e a liberação das narinas, diminuindo a obstrução.

O umbigo requer cuidados especiais no período neonatal. Ele é um importante foco de infecção em recém-nascidos. Deve ser higienizado a toda troca de fralda para diminuir esse risco e facilitar sua queda mais rápida. Sua limpeza é feita com álcool 70º nas trocas de fralda. A região a ser limpa é aquela junto à inserção do umbigo na pele. Nunca utilize faixas para cobrir o umbigo nem utilize outro produto se não o álcool 70º.

Muitas vezes ouvimos mitos e recomendações que nem sempre estão certos. Sempre que houver alguma dúvida com relação ao seu filho, não exite: procure seu pediatra.

Monique Catache é Mestre em Pediatria pela FMUSP e neonatologista.