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Três Mitsvot Específicas

As mitsvot especiais relacionadas com Sucot e o que elas nos ensinam

Comemorando III

A festa de Sucot deveria em princípio ser comemorada no mês de nissan, pois lembra a saída dos judeus do Egito.

Um dos motivos que se comemora Sucot logo após o Yom Kipur é o fato de que em Rosh Hashaná e Yom Kipur servimos ao Criador com temor e não com alegria, devido à tensão proveniente do Julgamento Celestial. A Torá não quis que permanecêssemos nesta atmosfera de tensão e deu ao yehudi, logo após o Yom Kipur, a possibilidade de entrar em um clima de alegria. Uma das mitsvot fundamentais de Sucot é justamente alegrar-se a Torá repete em três ocasiões diferentes a obrigação de nos alegrarmos nesta festa.

No Chag Hassucot temos três mitsvot específicas: a mitsvá de sentar na sucá, a mitsvá de segurar as quatro espécies no primeiro dia (nos demais é uma mitsvá instituída pelos sábios) e a mitsvá de alegrar-se. As mulheres estão isentas das duas primeiras mitsvot, pois estão isentas de todas as mitsvot assê - faça- que dependem do tempo. A mitsvá de alegrar-se na festa se aplica tanto aos homens quanto às mulheres e cabe aos que convivem com elas alegrá-las.

Existem poucas mitsvot no judaísmo que podemos cumprir com todo o nosso corpo. Ao cumprirmos a mitsvá de sucá, entramos totalmente dentro dela e todos os nossos órgãos participam do cumprimento deste preceito.

Algumas das condições para que a sucá seja considerada kesherá - apta - são as seguintes: a sucá precisa ter pelo menos três paredes, com no mínimo um metro de altura cada uma, e acima delas um teto constituído por elementos provenientes da terra, como galhos, folhagens e caules (não pode ser de concreto ou metal).

A folhagem que cobre a sucá denomina-se secach - da origem sucá - e é a principal parte da sucá. Esta cobertura não pode ser de um material que demonstre ser permanente - como uma grande tábua por exemplo - neste caso seria considerado como se estivéssemos sentados dentro de nossa casa e não cumpriríamos a mitsvá.

Não se pode fazer primeiro a cobertura e depois as paredes - conceito denominado “taassê velô min haassuy”. As paredes devem ser construídas primeiro. Outra mitsvá que possui este mesmo conceito é a mitsvá de colocar tsitsit nas roupas. As tsitsiyot - quatro conjuntos de oito fios- só devem ser colocadas em roupas que possuam quatro cantos soltos- como o talet das sinagogas. Uma camiseta, por exemplo, não possui quatro cantos, pois é fechada, e não recai sobre ela a obrigação de colocar tsitsiyot. No caso de se colocar tsitsit numa camiseta e depois cortá-la de maneira que fique com quatro cantos possuindo tsitsiyot, a tsitsit está inválida.

A sucá é denominada pelos nossos sábios de tselá demehemnutá - a sombra da fé. O fundamento que existe dentro da mitsvá de sucá é demonstrar que toda nossa fé e segurança estão depositadas nas mãos do Criador, uma vez que abandonamos nossas casas, onde nos sentimos estabelecidos e seguros, e vamos morar sob um teto provisório. Entregamo-nos nas mãos do Todo-Poderoso, entendendo e demonstrando que tudo o que possuímos nosso dinheiro, nossas casas, nossos empregos, tudo o que aparentemente é sólido e parece que nunca vai desabar - depende do Criador.

O conceito básico da sucá, portanto, é ser uma moradia provisória e por isso não requer mezuzá. As mezuzot devem ser afixadas somente em moradas permanentes.

Consta no livro “Netivot Shalom” que na festa de Sucot recebemos sete ilustres visitantes, assim como no berit milá recebemos também a alma de Eliyáhu Hanavi. Cada dia de Sucot possui um chefe dos visitantes: Avraham, Yitschac, Yaacov, Moshê, Aharon, Yossef e David, chamados por nossos sábios de “shiv’á ushpizin ilain cadishin” os sete visitantes sagrados elevados. Muitas pessoas costumam colocar uma cadeira especial para receber estes hóspedes. Estas importantes visitas não vêm em outras ocasiões, como em Rosh Hashaná por exemplo. Isso porque, tratando-se de personalidades elevadas, que estão acima dos conceitos materiais, só podem vir nos fazer companhia quando nós conseguimos nos desligar das coisas materiais. Quando nós, seres humanos, elevamo-nos acima da matéria, atingindo um grau espiritual elevado, aí então existe a possibilidade que estes visitantes sagrados possam comparecer. Isso ocorre somente em Sucot oportunidade em que nos desvinculamos da matéria, abandonando nossa sala e nossos móveis confortáveis e vamos para um lugar totalmente provisório e desprovido destas comodidades.

A segunda mitsvá específica de Sucot é a de segurar as quatro espécies. O etrog (cidra) cresce em planícies, perto do mar, e é comparado ao coração das pessoas. O lulav é a folha central da tamareira, cresce em lugares quentes e secos e representa a coluna vertebral. O hadás (mirto) cresce nas montanhas e é comparado aos olhos. A aravá (chorão) cresce perto de riachos e representa os lábios.

Cada vegetal possui um anjo, designado pelo Todo-Poderoso, responsável pelo seu desenvolvimento e que ordena constantemente seu crescimento. Estas quatro espécies, entretanto, têm o próprio Criador como responsável direto pelo seu crescimento. Existe um outro conceito semelhante a este, trazido pelo Talmud: várias “chaves” referentes ao desenvolvimento do mundo foram entregues a anjos. Existem, porém, três chaves que não foram entregues a eles, mas ficaram em poder direto do Todo-Poderoso: a chave da possibilidade de uma mulher ter filhos, a chave da chuva - e portanto o sustento e a sobrevivência das pessoas - e a chave da ressurreição dos mortos. Acreditar que haverá uma época em que os mortos ressuscitarão faz parte da crença fundamental do judaísmo e é um dos treze princípios da religião judaica.

As quatro espécies possuem leis específicas e minuciosas para que tenham validade e para o cumprimento da mitsvá. Se não possuírem um crescimento conforme determinam as leis, não serão adequadas. Por isso, o Criador não quis delegar a nenhum anjo esta responsabilidade, mas tomou-a para Si. É por isso que sempre existe a possibilidade de encontrarmos estas espécies em perfeitas condições para o cumprimento da mitsvá.

Cada uma destas quatro espécies representa um tipo de indivíduo que integra o nosso povo. A aravá não tem gosto nem cheiro e representa aqueles que não cumprem as mitsvot e nem estudam a Torá. O hadás possui cheiro, mas não tem gosto, e simboliza os judeus que cumprem as mitsvot mas não estudam a Torá. O lulav tem gosto (a tâmara), mas não possui cheiro, e é comparado àqueles que têm o conhecimento da Torá mas, infelizmente, não cumprem as mitsvot. O etrog, que tem gosto e cheiro, representa as pessoas que possuem o conhecimento da Torá e cumprem seus mandamentos. A festa de Sucot vem logo depois de Yom Kipur, quando, em princípio, todos se regeneram dos erros que cometeram durante o ano. Como símbolo da necessidade de união que deve haver entre todo o povo, unimos estas quatro espécies- que representam todo o povo.

Há um detalhe importante ligado com Chag Hassucot: Durante o ano existem quatro julgamentos diferentes. Um deles ocorre em Rosh Hashaná, quando a humanidade é julgada. Já em Sucot, D’us determina a quantidade de chuvas que o ano terá. Na época do Templo Sagrado, jogava-se vinho em cima do Mizbêach - altar- durante o ano todo. Em Sucot, porém, existia uma mitsvá de ir a uma fonte chamada Ma’yan Hashilôach, onde se pegava água e jogava-se sobre o altar. Isto representava o pedido a D’us para que nos abençoasse com a quantidade necessária de águas para todo o ano.

Ainda hoje, em Shemini Atsêret, oramos a D’us que nos mande água em abundância. Dizem nossos sábios que quando buscavam água nesta fonte, tamanha era a alegria das pessoas, que assimilavam Rúach Hacôdesh, uma inspiração Divina especial que se manifestava por um grau de profecia.

A alegria é uma das três mitsvot específicas ligadas a Sucot. Hoje, quando não possuímos o Bêt Hamicdash e não podemos cumprir a mitsvá de jogar estas águas sobre o altar, organizamos, em lembrança a esta mitsvá, noites de alegria- denominadas de Simchat Bêt Hashoevá - para que sintamos a satisfação de servir ao Criador.

O Rabi Yehudá Halevi zt”l, autor do livro “Hacuzari”, foi uma grande autoridade rabínica entre nossos sábios. Neste livro ele escreve que existem várias formas de servir ao Criador. As pessoas podem servir ao Criador por meio do temor, por meio do amor e por meio da alegria, da satisfação. Rabi Yehudá Halevi nos diz para não pensarmos que por meio do temor alcançamos níveis espirituais mais elevados do que por meio da alegria. Por intermédio da alegria pode-se alcançar níveis espirituais muito elevados. Prova disso é o fato de que os profetas somente recebiam a profecia se estivessem em estado de alegria. Se estivessem mal-humorados ou tristes não havia a possibilidade de receberem a Presença Divina para profetizarem.

Devemos ter este conceito como conduta básica durante nossa vida. De uma forma geral, devemos procurar encarar os fatos com alegria. Se procurarmos levantar nosso ânimo espiritual e introduzir em nossas vidas uma alegria inerente a nossas ações, uma alegria que faça parte de nossa natureza, isso fará com que encaremos os fatos de forma positiva, deixando de lado o pessimismo. Quando estamos em um estado emocional positivo, tudo parece dar certo e é muito difícil nos abalarmos. Precisamos aproveitar estes dias de Sucot e levar em consideração a necessidade de encarar os fatos sempre com olhos de simchá - alegria. Do ponto de vista da Torá, existe uma cobrança para que não fiquemos com o ânimo abalado, para que estejamos sempre num estado emocional de alegria e confiança no Todo-Poderoso.