“Todo Ano que é Pobre em seu Início, Enriquece em seu Final”
Consta em Massêchet Rosh Hashaná (16b): “Disse Rabi Yitschac: Todo o ano que é pobre em seu início, enriquece em seu final”. Explica o Rashi que isto se refere a quando o Povo de Israel se considera necessitado em Rosh Hashaná; então, suplica e ora, conforme está escrito: “súplicas dirá o necessitado”.
Rabi Yitschac explica que, o modo de se dirigir a D’us no começo do ano, influencia o veredicto que é então dado sobre todo o ano. Se o indivíduo se considera pobre e necessitado, sem possuir nada, receberá uma fartura de bênçãos Divinas na continuação deste período.
Sendo assim, é importante entender o que deve ser especial e diferente no modo de nos dirigirmos a D’us em Rosh Hashaná, uma vez que durante o ano inteiro rezamos e suplicamos, com todo o coração!
É obrigatório dizer, que nossos sábios não se referem apenas ao modo exterior e a que palavras usamos. Eles vêm dizer que, então, cada um deve sentir, no âmago de seu coração, que não possui nada, que é pobre e necessitado e que toda a sua salvação depende integralmente da Bondade Divina e de Seu salvamento.
Um dos trechos das selichot é: “como pobres e necessitados batemos à Sua porta” (kedalim uchrashim dafaknu delatêcha). Devemos sentir isso também no fundo do coração, pois sem isso é possível extrair de nossas bocas diversas súplicas e estarmos repletos de orgulho por dentro.
É muito difícil escapar do orgulho, não sendo raro alguém falar que só D’us pode salvar e, no mesmo instante, pensar no próprio orgulho. Em Rosh Hashaná há um dever especial de se afastar disso, sentindo a própria pobreza e falta de poderes. Por mérito disso, o ano fica rico no final, com D’us escutando as preces, recebendo-as e enviando Sua bênção dos Céus.
É trazido em Massêchet Rosh Hashaná (26) que, no começo do ano, costuma-se tocar em um shofar curvo. A guemará explica que “em Rosh Hashaná, quanto mais a pessoa encurva (subjuga) suas idéias, melhor”.
Este é o modo correto de entender Rosh Hashaná. Cada um deve sentir que não possui nada e que o que D’us lhe conferiu no ano passado já não é relevante para o futuro. É necessário se curvar perante o Eterno, o que é indicado pelo shofar curvo.
O Orgulho Atrapalha o Serviço Divino
No Lêcach Tov, sobre os Yamim Noraim (página 267) são trazidas as palavras do livro Mipcudecha Etbonan, segundo o qual os principais fatores que impedem as pessoas de chegarem a níveis espirituais elevados, que poderiam alcançar, são as más qualidades de caráter (midot), que se encontram no coração. Destas, a principal é o orgulho.
Uma reflexão sobre o assunto ensina uma lição profunda sobre os poderes alma. É compreensível, à primeira vista, que uma pessoa possa se orgulhar em relação à outra, mas não que o faça quanto a D’us, pois em relação a quê poderá se sentir superior a seu Criador, Que tudo pode fazer?
No entanto, encontra-se que há aqueles que são orgulhosos mesmo em relação a D’us, o que atrapalha muito para rezar como se deve, dirigir-se ao Eterno apropriadamente, etc.
Assim consta no midrash em Bereshit Rabá (19):
“Quatro são os que D’us conferiu e descobriu serem como um jarro repleto de dejetos”. Um deles é Chizkiyáhu, rei de Yehudá, que se enalteceu perante D’us.
É impossível chegar a compreender o elevadíssimo nível de Chizkiyáhu, que era um justo extremamente elevado. Em seu reinado não havia ninguém do povo que não conhecesse até mesmo as partes mais difíceis da Torá. Ainda assim, aprende-se das palavras deste midrash que, mesmo com relação a ele houve um certo tipo de crítica, que proveio do fato de ter ele se orgulhado perante D’us.
O coração do ser humano é capaz de ser teimoso e falso, sentindo-se mais elevado até que o Próprio Criador. Rosh Hashaná é a época apropriada para purificá-lo, sentir-se efetivamente pobre e necessitado e reconhecer o fato de se encontrar perante o Rei dos reis; o Único Que merece a Honra.
Bondade e Misericórdia
Sobre o trecho trazido no início deste ensaio, que “todo o ano que é pobre em seu início, enriquece em seu final”, explica o Tossafot que uma vez que o Povo de Israel é pobre, seu coração fica alquebrado e apiedam-se dele, nos Céus, conforme está escrito: “a oferenda do Eterno é o espírito alquebrado”.
D’us é Misericordioso, não havendo limites para Sua Bondade. Para que esta seja posta em prática, no entanto, é necessário que o indivíduo constitua um utensílio apropriado para recebê-la.
Aquele que possui um coração alquebrado tem o interior igual ao exterior, realmente não possuindo nada. Assim, ele tor-na-se apto a receber a bênção Divina, que lhe é concedida em forma de riqueza e alívio durante o ano inteiro.
Escreve o Rav Chayim Friedländer zt”l, em uma carta: “em Rosh Hashaná é decretado ao indivíduo, cada dia e dia do próximo ano, o que ele terá, quanto será capaz de usufruir do que possui e até quanto isso lhe adiantará”.
“Uma vez que é assim, o indivíduo deve receber novamente tudo, estando agora perante o Trono do Julgamento como um pobre e necessitado, que não possui nada e que depende total-mente da Misericórdia Divina - tanto ele quanto todos os seus dependentes”.
Aquele que sente que não possui nada e que seu destino, assim como o de sua família, será selado no começo do ano, certamente se sentirá submisso. Esta reflexão é capaz de levar a uma grande submissão, que contém em si a chance de obter sucesso no julgamento de Rosh Hashaná.
A Submissão Total
Escreve o Rabênu Yoná, no Shaarê Teshuvá (sháar 1, 23): “O sétimo fundamento (da teshuvá) é a submissão com todo o coração e o rebaixamento. Isto porque quem conhece seu Criador sabe o quanto aquele que transgride Suas palavras é baixo, desprezível e sem valor.
“Assim também o Rei David, ao confessar seu pecado quando veio Natan, o profeta, disse, no fim de suas palavras: ‘a oferenda de D’us é o coração alquebrado; um coração quebrado e submisso o Eterno não desprezará’ (Tehilim 51:19). Um espírito alquebrado, um espírito submisso”.
“Aprendemos disso que a submissão faz parte dos fundamentos da teshuvá, pois este capítulo do Tehilim (51) é uma base ética para os fundamentos da teshuvá. Com a submissão, o indivíduo se reconcilia com D’us, conforme está escrito: ‘A este olharei, ao pobre e de espírito alquebrado...’ (Yesha’yáhu 66:2)”.
Considerando que a submissão é um dos grandes fundamentos da teshuvá, que ela aproxima o indivíduo de seu Criador e o auxilia a receber Sua bondade, é importante aumentar a reflexão sobre a Grandeza de D’us e a insignificância do ser humano, no início do ano. Da mesma forma, deve-se meditar sobre o selamento do destino em Rosh Hashaná e a possibilidade de ser inscrito no Livro da Vida, por mérito da submissão.
Deste modo, será possível que cada um cumpra sua função e chegue ao que prometeram nossos sábios: “Todo o ano que é pobre em seu início, enriquece em seu final”.