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O Comprimido

Todas as dúvidas e divergências monetárias de nossos dias podem ser encontradas em nossos livros sagrados!

Dinheiro em Xeque

Aconteceu com um professor que sempre “batia de frente” com um de seus alunos. Ele dizia que o menino era inquieto e fazia muita bagunça na sala de aula. Não passava um dia sem que o garoto recebesse um castigo. Às vezes ele era expulso da sala e até recebia suspensão da escola de um ou dois dias.

Então, certo dia o professor chamou o pai do garoto e disse: “É impossível continuar assim! Seu filho precisa tomar um calmante para diminuir a hiperatividade! Ele precisa se acalmar para melhorar sua atenção e concentração!”

No princípio, o pai tentou convencê-lo que seu filho era uma criança calma e capaz de se concentrar nos estudos por horas a fio, porém o professor se manteve firme. Então o pai iniciou uma chantagem emocional, dizendo que era uma pessoa pobre e não tinha condições de arcar com as despesas do medicamento. Porém, o professor continuou “na dele” e disse para o pai pedir esmola para conseguir o dinheiro necessário para a compra do remédio, já que sem a medicação seria impossível manter o garoto na escola.

Sem escolha, o pai concordou em comprar o remédio, porém ainda fez uma pergunta: “Eu e minha esposa saímos cedo de casa para trabalhar. Como poderemos dar o remédio para o nosso filho perto do horário das aulas?”.

“Não se preocupe com isso” disse o professor. “Eu me preocuparei para que ele receba o medicamento a cada manhã.”

“Eu não gostaria que toda a classe visse meu filho tomando o calmante!”, retrucou o pai.

“Fica frio! Eu o enviarei todos os dias para a sala dos professores e pedirei a ele para me preparar um cafezinho. Neste momento ele tomará escondido o remédio que ficará no armário.”

Ficaram combinados desta forma.

E assim foi. O pai comprou o remédio com seu dinheiro e deu para o professor.

O professor colocou os comprimidos no armário, conforme combinado.

Todo dia o professor pedia para o aluno buscar-lhe um cafezinho e acrescentava em voz baixa: “Não se esqueça de pegar um comprimido no armário”.

A cada dia ele pegava um comprimido.

O resultado? Fantástico! O menino se transformou no gênio da turma!

Após dois meses, o pai sentou-se com seu filho e perguntou como estava indo nas aulas.

O filho respondeu com franqueza: “Escuta só uma coisa interessante, pai. Algo de estranho está acontecendo na escola. Já faz dois meses que há silêncio na sala de aula e o professor não implica nem grita mais comigo.”

O pai então perguntou com um sorriso satisfeito: “E qual o motivo para isso, filho?”.

Foi aí que o pai ouviu uma resposta surpreendente: “O motivo eu não sei. Porém o que sei é que, a cada manhã o professor me manda para sua sala para preparar um café. Ele também pede que eu pegue um comprimido no armário. Eu o obedeço. Chego lá, preparo um café para ele, pego um pequeno comprimido no armário e coloco dentro do copo de café. O professor bebe o café e passa a manhã inteira tranquilo...”.

O pai imaginou que o professor explicaria para o filho que ele deveria tomar um dos comprimidos do armário a cada dia.

O professor imaginou que o pai já tinha explicado para o filho que ele deveria tomar um dos comprimidos do armário.

Com isso, ficou claro que quem sofria de inquietude e problemas de concentração era, nada mais nada menos, que o próprio professor.

Quando soube da verdade dos fatos, o professor compreendeu que o problema era seu. Que ele próprio era o culpado, e não o aluno. Então ele foi honesto e pediu desculpas ao menino, que imediatamente lhe perdoou.

Depois de tudo isso, o professor pergunta ao Rav Zilberstein: “Eu estou obrigado a devolver ao pai do menino o dinheiro gasto com o medicamento?”.

O veredicto

De acordo com a lei estrita, parece que o professor precisa pagar pelo remédio. Ficou claro que ele era o culpado e era ele quem precisava do remédio - e teve proveito dele.

Por outro lado, já que o pai comprou o remédio com o objetivo que seu filho continuasse os estudos com sucesso, foi bom para ele ter uma despesa dessas. E o pai ainda teve dois proveitos: o primeiro que seu filho não foi expulso da escola; e o segundo que, a partir de agora ficou constatado que ele “não precisa mais tomar remédios!...”.

De todos os modos, a mensagem desta história é incrível! Muitas vezes nos apressamos em culpar o próximo e julgá-lo para o mal. É muito importante sempre refletirmos se o que achamos dos outros não se refere a nós mesmos. E, em particular, quando alguém pretende aplicar um castigo a um aluno ou a seus filhos, deve pensar muito bem se o castigo realmente se aplica a eles...

Do semanário “Guefilte-mail” (guefiltemail@gmail.com).
Traduzido de aula ministrada pelo Rav Hagaon Yitschac Zilberstein Shelita
Os esclarecimentos dos casos estudados no Shulchan Aruch Chôshen Mishpat são facilmente mal-entendidos. Qualquer detalhe omitido ou acrescentado pode alterar a sentença para o outro extremo. Estas respostas não devem ser utilizadas na prática sem o parecer de um rabino com grande experiência no assunto.