
Aconteceu com um professor que sempre “batia de frente” com um de seus alunos. Ele dizia que o menino era inquieto e fazia muita bagunça na sala de aula. Não passava um dia sem que o garoto recebesse um castigo. Às vezes ele era expulso da sala e até recebia suspensão da escola de um ou dois dias.
Então, certo dia o professor chamou o pai do garoto e disse: “É impossível continuar assim! Seu filho precisa tomar um calmante para diminuir a hiperatividade! Ele precisa se acalmar para melhorar sua atenção e concentração!”
No princípio, o pai tentou convencê-lo que seu filho era uma criança calma e capaz de se concentrar nos estudos por horas a fio, porém o professor se manteve firme. Então o pai iniciou uma chantagem emocional, dizendo que era uma pessoa pobre e não tinha condições de arcar com as despesas do medicamento. Porém, o professor continuou “na dele” e disse para o pai pedir esmola para conseguir o dinheiro necessário para a compra do remédio, já que sem a medicação seria impossível manter o garoto na escola.
Sem escolha, o pai concordou em comprar o remédio, porém ainda fez uma pergunta: “Eu e minha esposa saímos cedo de casa para trabalhar. Como poderemos dar o remédio para o nosso filho perto do horário das aulas?”.
“Não se preocupe com isso” disse o professor. “Eu me preocuparei para que ele receba o medicamento a cada manhã.”
“Eu não gostaria que toda a classe visse meu filho tomando o calmante!”, retrucou o pai.
“Fica frio! Eu o enviarei todos os dias para a sala dos professores e pedirei a ele para me preparar um cafezinho. Neste momento ele tomará escondido o remédio que ficará no armário.”
Ficaram combinados desta forma.
E assim foi. O pai comprou o remédio com seu dinheiro e deu para o professor.
O professor colocou os comprimidos no armário, conforme combinado.
Todo dia o professor pedia para o aluno buscar-lhe um cafezinho e acrescentava em voz baixa: “Não se esqueça de pegar um comprimido no armário”.
A cada dia ele pegava um comprimido.
O resultado? Fantástico! O menino se transformou no gênio da turma!
Após dois meses, o pai sentou-se com seu filho e perguntou como estava indo nas aulas.
O filho respondeu com franqueza: “Escuta só uma coisa interessante, pai. Algo de estranho está acontecendo na escola. Já faz dois meses que há silêncio na sala de aula e o professor não implica nem grita mais comigo.”
O pai então perguntou com um sorriso satisfeito: “E qual o motivo para isso, filho?”.
Foi aí que o pai ouviu uma resposta surpreendente: “O motivo eu não sei. Porém o que sei é que, a cada manhã o professor me manda para sua sala para preparar um café. Ele também pede que eu pegue um comprimido no armário. Eu o obedeço. Chego lá, preparo um café para ele, pego um pequeno comprimido no armário e coloco dentro do copo de café. O professor bebe o café e passa a manhã inteira tranquilo...”.
O pai imaginou que o professor explicaria para o filho que ele deveria tomar um dos comprimidos do armário a cada dia.
O professor imaginou que o pai já tinha explicado para o filho que ele deveria tomar um dos comprimidos do armário.
Com isso, ficou claro que quem sofria de inquietude e problemas de concentração era, nada mais nada menos, que o próprio professor.
Quando soube da verdade dos fatos, o professor compreendeu que o problema era seu. Que ele próprio era o culpado, e não o aluno. Então ele foi honesto e pediu desculpas ao menino, que imediatamente lhe perdoou.
Depois de tudo isso, o professor pergunta ao Rav Zilberstein: “Eu estou obrigado a devolver ao pai do menino o dinheiro gasto com o medicamento?”.
O veredicto
De acordo com a lei estrita, parece que o professor precisa pagar pelo remédio. Ficou claro que ele era o culpado e era ele quem precisava do remédio - e teve proveito dele.
Por outro lado, já que o pai comprou o remédio com o objetivo que seu filho continuasse os estudos com sucesso, foi bom para ele ter uma despesa dessas. E o pai ainda teve dois proveitos: o primeiro que seu filho não foi expulso da escola; e o segundo que, a partir de agora ficou constatado que ele “não precisa mais tomar remédios!...”.
De todos os modos, a mensagem desta história é incrível! Muitas vezes nos apressamos em culpar o próximo e julgá-lo para o mal. É muito importante sempre refletirmos se o que achamos dos outros não se refere a nós mesmos. E, em particular, quando alguém pretende aplicar um castigo a um aluno ou a seus filhos, deve pensar muito bem se o castigo realmente se aplica a eles...
Do semanário “Guefilte-mail” (guefiltemail@gmail.com).
Traduzido de aula ministrada pelo Rav Hagaon Yitschac Zilberstein Shelita
Os esclarecimentos dos casos estudados no Shulchan Aruch Chôshen Mishpat são facilmente mal-entendidos. Qualquer detalhe omitido ou acrescentado pode alterar a sentença para o outro extremo. Estas respostas não devem ser utilizadas na prática sem o parecer de um rabino com grande experiência no assunto.